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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Menino das Estrelas no 13º Enast em Recife


Como é de Costume o Ceaal sempre participa do Enast, Encontro Nacional de Astronomia, e este ano além de outras atividades do nosso grupo, levamos um Cordel onde descreve um pouco da vida de menino de um dos sócios e também faz referência ao fundador do nosso Clube de Astronomia.







O menino na Roça

Nasci em quarenta e cinco,

Nas inclemências da guerra,

Na grande sombra dum outeiro

Por detrás de muitas serras,

Observando um céu natural

Onde a consciência se eleva.



Meu pai vivia da roça,

Produtos do seu labor;

Era o que interessava,

Banana ou mamão na flor,

Animais na manjedoura,

E as juntas sem sentir dor.



Era artífice de qualidade

Na arte de marcenaria,

Apreciava boa madeira

Na sua casa de farinha,

Pois dela tirava o lenho

Para atender a freguesia.


Eu assim fui me criando,

Assistindo e aprendendo

Os trabalhos de carpintaria,

Assim eu ia crescendo

Para um futuro acalanto

Não ficar a mercê do vento.



Vivíamos do que fazíamos,

É a história que conheci,

Trabalhos de carpintaria,

Esse eu bem que mereci,

Papai lavrava a terra,

E eu servindo de aprendiz.



Luz elétrica, nem pensar,

Nenhuma comunicação,

Somente luz do candeeiro

Aplacava aquela escuridão.

Do lado de fora, no entanto,

O céu, verdadeira ostentação.



Não era somente isso não,

Havia os festejos juninos,

Curtia o fabrico de pólvora

Para depois nos estampidos

Celebrar o Santo do dia

Sem precisar ser socorrido.



Nesse pé de arrumação,

Nas noites de trovoadas,

Falava-se de Astronomia

Sem faltar às tabuadas,

Para computar a altura

De toda aquela saraivada.



Criei-me nesse ambiente

Entre estrelas cintilantes,

Eu menino me deslumbrava

Com aquele céu brilhante,

Minha mãe sempre falava

De um Deus exuberante.



Valia à pena a gente ouvir

O galo na madrugada

Separando noite e dia,

Em silêncio, região isolada.

na mente, a lembrança,

De uma noite enluarada.



Meus avós, não conheci,

Nem importava a ocasião;

Tanto meu pai como a mãe

Deram-me com gratidão

Nomes de lendas famosas,

Do Golfinho ao Rei Leão.



Minha mãe olhava o céu

No carreiro de São Tiago.

Para ela, aquele Universo

Era como escutar um fado;

Apontava as bandas do norte

E me mostrava o arado.


Aquela mente analfabeta,

E o meu pai um tanto herege,

Porém ambos conversavam

E diziam: aqui tudo acontece.

Planetas se movimentam,

E a gente vê quando anoitece!


Eu perguntava incisivo:

Quem lhes falou tanta coisa?

Ora, foi o mestre Pacheco,

Ensinava a escrever na lousa,

no caso do teu velho pai,

Foi Seu Benedito de Sousa.



Enfeitiçado me deixava

Tanta luz num candeeiro,

Papai dizia com ênfase:

Essa veio do estrangeiro,

É pra iluminar a estrada

E fazer o serviço ligeiro;


Lá pras banda da Europa,

Eles chamam Sealed Beam.

Aqui, no meio dos matutos,

É chamada de Silibrina

Por causa dessa luz forte

Pra deixar tudo no clima.


Menino ainda eu era,

Nem olhava a Severina.

Fitava muito as estrelas

Sem o Raio da Silibrina

Pois era uma supernova

A luz daquela bobina.



A Silibrina, uma lanterna

De Grande poder de luz

Levada nas locomotivas

Não era pra fazer cuscuz

Usava-se na manutenção

Dos trilhos que a conduz.


Coisas que mexiam comigo,

Silibrina era uma delas,

Fabricada por estrangeiros

Não era pronúncia bela,

A outra era a Locomotiva,

Eu ainda andei nelas.


Meu pai sempre dizia

O que tem aqui tem no céu:

Cachorros, pato e Peru,

Cobras, Lagartos e Pantéu.

Lá pras banda do norte,

Tem até noiva com véu.



Vivi no Sítio Guariba

Dos sete aos vinte anos

Estudava e trabalhava,

A agricultura era o ramo,

Cortava cana e amarrava

E sabia quem era o dono.


Também fazia as birras,

Onde todo menino é bom,

Bolinava com as vacas,

Porém sem perder o tom,

Aprontava com as cabras,

E o berimbau era o som.



Vitor, amigo de infância,

Nascido em Caruaru,

Ajudava-me nas trelas

Às voltas com o Cururu,

Onde fazíamos capa sapo

Com calangos e teju.


Pela noite com o meu pai

Olhava as bandas do leste,

Era ali onde aparecia

Muito objeto celeste,

Inclusive o Sputnik

Do oeste para o sudeste.


O céu da Guariba era bom

Para se avistar gaviões,

Também as Malhas do Sul,

Aquelas galáxias Irmãs,

Assim minha mãe chamava

As Nuvens de Magalhães.


Cometas, no céu da tarde,

Pela manhã, ainda bem!

Uma festa para os olhos!

E preocupação também;

Na boca daquele povo,

Calamidade por ai vem.



Circulo na Lua e no Sol?

Era aquele estardalhaço,

Cada um que mourejasse

Uma boa queda de braço

E acertasse a interpretação

Sem demonstrar embaraço.

Bem próximo do arqueiro,

Por volta de zero hora,

Minha madre lá apontava

O Rosário de Nossa Senhora;

Que bela Coroa Austral!

Sendo vista sem demora.



Parecia uma ferramenta

Usada pelo carpinteiro,

O Compasso de São José?

Conhecido no mundo inteiro

Pela constelação do Touro,

E Aldebarã vem primeiro.



Não sendo muito estudada,

Custava a entrar no passo

Pois a constelação do Touro

Se parece com o compasso;

Ferramenta dos obreiros,

Assim não erra os espaços.



A luta pelo saber



Aprender a ler foi mais fácil

Do que se estava esperando,

Consegui com as empregadas

Na Casa Grande trabalhando.

Elas me ensinavam de tudo,

Muitas vezes soletrando.



Com cinco anos de idade,

Fiz carreira na escola,

De Dona Bia a comadre

Pra não perder a viola

Quando ficasse mais velho,

Ter algo de bom na sacola.



Quando eu já sabia ler,

Dos Anjos, a professora,

Encaminhou-me a cidade

Para outra educadora,

Era no Grupo Escolar

Bem perto da Difusora.



Lá aprendi muita coisa

Da primeira a série quarta,

Logo cheguei até a oitava.

Minha professora era Marta,

Ficou muito fácil a lição

De quem tinha a mente nata.



Corri pra cidade grande

E lá estudei pesado,

Fiz o Ensino Médio,

Achava-me capacitado

Pra enfrentar a universidade

Porém estava enganado.



Lá eu fui muito ajudado

Por um irmão caprichoso

Bem mais velho do que eu

E era também buliçoso,

Deixou família numerosa

E não se dizia queixoso.



Tentei a Universidade,

Levei pau no vestibular,

Disse para mim mesmo:

Um dia vou arregaçar,

Fabricar gente letrada

Pra deixar no meu lugar.



Em busca da Normalista



Nos anos sessenta e oito

Do século que acabou,

Posso dizer sem rodeios:

Minha vida renovou.

Quando conheci uma jovem,

Minha sobrinha que apontou.



Uma querência bonita

Que logo botei no peito.

Ela era uma normalista

Para o meu sonho perfeito;

Aproveitei o vento risonho,

Assim fiz o que era direito.



Passado já algum tempo

Que começou tal vida e lida,

Quebramos os protocolos

E as passadas perdidas.

Ultrapassamos as fronteiras

Não respeitando divisas.



O sonho da Universidade

Ficou mesmo para os filhos,

Que vieram programados

E apertados nos atilhos.

Saíram dois para o sucesso

E estão em cima dos trilhos.



Contato com as Estrelas



Trabalhando lá em Recife,

Um jovem empedernido

Conheceu no grande centro

O padre Polman decidido

Lá nos domínios do CEA

Em ambiente descontraído.



Trouxe para Alagoas

Essa fonte inesgotável

De conhecimento aplicado.

E sem recurso palpável

Reuniu um grupo coeso

Para estudar o céu afável.



Em um depósito de escola,

Viu uma luneta sucateada.

Com manutenção e verniz,

Manteve-a bem prateada,

Fez mesmo que Galileu,

Deixou-a já patenteada.



Isso foi em setenta e nove,

Somente dez anos após

Foi registrado em Cartório,

E o nome Ceaal tem voz.

Hoje somos reconhecidos,

E o céu, nosso Porta Voz.



Reabrindo o horizonte,

Nosso saudoso Genival,

Com garra, fé e coragem,

Deu grande impulso ao Ceaal.

Hoje até Observatório

Leva seu nome afinal.



Acontece como as estrelas,

Que deixam a sua mensagem;

Com nosso amigo também,

Para o além fez a viagem,

Deixando muita saudade,

Brilhará noutra paragem.



Encontrei um grupo coeso

De intelecto superior,

Professor, médico e advogado,

Tem até mesmo um senador.

Não em forma de pessoa,

Mas, um instrumento de valor.



Faço parte desse grupo,

Entrei sem conhecimento,

Aprendi muito e repasso

Alguns dos ensinamentos.

Alunos é que não faltam,

Cada um com mais talento.



Estando no meio deles

Renovo meu conhecimento

Confundem-me com professor

Reconhecem meu talento

Nunca me senti tão bem

Numa equipe em movimento.



Tem nessa corte estrelada

Pesquisa, Ensino, Divulgação

Faço estas duas últimas

Pesquisa, não sou bom não

Existem outros membros

Que estão sempre em ação.



Em quatro EINA cheguei

Num dos ENAST também

Aprendi bastante coisa

E nem viajei pro além

Dois mil e dez em Recife

Pra me sentir muito bem.



Falarei dos personagens

Do meu grupo seletivo

Romualdo com nebulosas

É um médico muito ativo

Sempre chega na hora certa

Bom camarada e amigo.



Adriano é nosso Mestre

Orientador por excelência

Divide com todo mundo

Sua ampla experiência

É um grande amigo de fé!

E não esquece a paciência.



É funcionário federal

Também fez computação

Construiu seu telescópio

Que comprou a Sebastião

Ainda admira as estrelas

Nosso Lucas é um cidadão.



David com seus Messier

Do céu, grande conhecedor

Tem o domínio da palavra

Com intelecto superior

Fala mais de um idioma

No Ceaal, ainda é tradutor.



Temos musas mimosas

De rara beleza austral

Kizzy Sirius é uma delas

Do nosso circulo central

O planetário é sua área

Astronomia é seu ideal



Edmilson não esquece

Seu trato com o Planetário.

Ele gosta das Variáveis

E profere seminário

Em Física está afinado

Recebe fundo do Erário.



Júnior lá de Batalha

Advogado brilhante

Conhece o céu como nunca

É assíduo e constante

Tem Observatório remoto

Naquele céu fumegante



Simone é a contabilista

Falta um pouco, mas aparece.

Quando chega é uma alegria

Dela ninguém esquece.

Cuida da pouca finança

E o clube bem que agradece.



Falarei num verso só

Dos nossos amigos turistas.

São muitos, mas não assíduos

Assim faz parte da lista.

Quando vêem nos felicita

Agradecemos a visita.



Nesse grupo fabuloso

Sinto-me valorizado.

Aquele menino pobre,

Agora está qualificado

Para apresentar palestras.

Fui até condecorado.



Cheguei a ser premiado

Do Prêmio Genival Leite.

Restaurei até telescópios,

Para proveito e deleite.

Eram peças de museu

Serviam só de enfeite.



Lá no meu Pernambuco,

Terra dos meus ancestrais,

Recebi o primeiro impulso

Do ensino dos meus pais;

Eles me falavam de Galileu

E de tantas coisas mais.



Foi aqui em Alagoas,

Onde vi e entrei direto,

Montando meu telescópio

Comprado no mercado aberto.

Foi só tomar o caminho

Pra não ficar descoberto.



Na base para os telescópios,

Eu até tinha quem fizesse;

Peguei aulas com Adriano,

Depois com Sandro Coletti.

E, nessa mesma caminhada,

Tornei-me um ATM-BR.



Adriano, professor de Física,

Sabia fazer telescópios,

Encaminhou-me na jornada,

Não foi preciso periscópio

Para eu fazer a tomada,

Entrei na onda dos sócios.



Sócios, o clube tem muito,

Médicos, mestre e advogado,

Estudantes e tradutores,

Todos muito interessados

Para ver logo o que saia

Do novo recém-chegado.



Correndo atrás das Estrelas,

Aproveitei Marcelo Moura,

Meu professor à distância,

Com leituras duradouras.

O restante foi em casa

Na sombra da Professora.



Fiz um mirador das estrelas,

Cheguei a fazer sucesso,

Entrei nesse grupo legal,

Consegui fazer progresso

Construindo os instrumentos,

Foi assim que tive acesso.



Hoje brindamos Alagoas

Do Agreste a beira-mar

Com a divulgação do Céu;

Fazemos isso sem parar

Em praças, calçadas e ruas,

Já fomos até no Cajá;



Lá no Cajá dos Negros,

Nos mundos de Batalha,

Vimos um novo horizonte,

Não um recanto de sala.

Um planetário natural

Onde estrela se agasalha.



Imagine a sua esposa

Numa noite de verão

Passar a mão do seu lado

E não encontrar o varão;

Fica logo apoquentada

De perder o seu patrão.



Quando olha do terraço,

Abranda logo o coração,

La está o seu amado

Aproveitando a escuridão,

Tentando achar um cometa

Naquela enorme vastidão.



As voltas com o telescópio,

Procura-se ver tudo bem;

Lua em quarto crescente,

Planetas e estrelas também,

De gente no meio da praça

Num gostoso vai e vem.



Para apreciar bem o céu,

Só presta durante a noite.

E, na posse de um telescópio,

Vento fraco sem acoite.

E, para ver direito mesmo,

Só através dum pernoite.



Não é fácil acreditar

Essas coisas tão além,

mesmo lendo os estudos

Para entender tudo bem,

Conforme Stephen Hawking

E os feitos do Big-Bang.



Chega até ser solitária

A vida nestas alturas,

Observando ao telescópio,

Forçando o corpo a postura,

Comprometendo o espinhaço

Sem ver a Matéria Escura.



Nesse céu tão vasculhado,

Nas noites escuras, sem medo,

E sempre na esperança

De descobrir um segredo,

O brilho duma Supernova,

Começo dum Buraco Negro.



Agradeço toda leitura

Desses que aqui estão

Para ouvir essas histórias

Dos tempos que lá se vão,

É um colírio para os lhos

E acalanto pro coração.



Brindando com essa prosa

Inda vou chegar bem perto

Relembro o meu passado

Indo pelo portão certo

Não encontrarei obstáculo

O céu estando descobert



































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